Léa Silveira. n-1 edições, 2024.
Quando Léa Silveira, com sua densidade téorica, seu humor fino e sua perspicácia filosófica ímpar, decide escrever essa obra, ela revela o que veio a constituir esse campo sutil e, ao mesmo tempo, retumbante do encontro entre a psicanálise e as teorias feministas.
Revela uma topologia de sombras, caminhando passo a passo por seus veios inauditos entre a luz e a penumbra, dançando pelo fio da navalha com seu corpo bailarino de palavras. É estonteante acompanhá-la. A cada pirueta, um rasgo de lucidez crítica. E ela entrega o que promete.
O ato de levantar o véu desnuda os processos, não apenas de naturalização das hierarquias entre as posições associadas ao que se estabelece historicamente como feminino e masculino. Este ato também suspende os curtos-circuitos de supostos axiomas que partem da hegemonia atribuída ao que seria o masculino ideal (no singular), como se ela não fosse apenas um enquadre de arranjos simbólicos, mantidos ao longo dos séculos. Poderíamos mesmo dizer que a grande tese do livro é a colocação a nu desta equivalência entre masculino e cultura, no sentido do simbólico.
O livro para homens e mulheres, binários e não binários, cis e trans, interroga a presença do feminino e da mulher na cultura e coloca em marcha, dentro de um novo paradigma, interrogantes sobre o processo civilizatório hoje. Léa Silveira certamente escreve seu nome, através deste livro, no rol da intelectualidade feminina e feminista brasileira em ato, sem retorno.
Andréa Guerra
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